Riscos da Radiação X e a Importância da Proteção Radiológica

Desde a descoberta dos raios X até os dias atuais muito se fala sobre os riscos e benefícios dessas radiações. A população na maioria das vezes não fazem ideia do que seja radiação, mas por causa dos grandes acidentes envolvendo radiação, como o acidente de Goiânia – Brasil, Chernobyl – Ucrânia, Fukushima – Japão, deixam essas pessoas apavoradas só de saber que precisa fazer um exame de raios X, e principalmente quando o médico diz: você precisa fazer uma Ressonância Magnética Nuclear, esse “nuclear” já lembram as “bombas” nucleares. Mas afinal, o que é radiação, qual a diferença entre radiação ionizante e não ionizante, como proteger a sociedade e os profissionais das exposições radiológicas médicas? É o que vamos ver agora.

Radiação é toda energia que se propaga no vácuo ou no espaço em forma de ondas ou partículas. As que se propagam em forma de ondas chamamos radiação eletromagnética, e as que se propagam em forma de partícula chamamos de radiação corpuscular.

As radiações podem ser do tipo ionizante e não ionizante. É considerada radiação ionizante toda energia capaz de ejetar “arrancar” elétrons dos átomos, ou seja, capaz de alterar a estrutura da matéria. As demais radiações que não tem energia suficiente para alterar a estrutura da matéria é denominada não ionizante.

Exemplo de radiações ionizantes: Raios X e raios Gama (essas tem natureza eletromagnética) e as partículas alfa, beta, prótons e elétrons (essas tem natureza corpuscular.

Exemplo de radiações não ionizantes: Ondas de rádio, microondas, infravermelho, Luz visível, ultravioleta (essas também são de natureza eletromagnética).

As radiações podem ser do tipo artificial ou natural, como a própria denominação sugere, as radiações artificiais são aquelas produzidas artificialmente pelo homem e as naturais são emitidas naturalmente através de elementos radioativos encontrados na natureza.

Aplicações médicas representam a principal fonte de exposição artificial da população mundial às radiações ionizantes.

O profissional tem toda obrigação de saber profundamente os conceitos físicos radiológicos para se proteger e garantir a proteção do paciente que procura ajuda ao atendimento de diagnóstico médico.

De acordo com O National Council on Radiation Protection and Measurements (NCRP), “nos Estados Unidos, estima que a exposição à radiação para a produção de imagens médicas aumentou em 600% entre 1980 e 2006”. 

A maioria dos efeitos indesejados decorrentes da exposição às radiações ionizantes podem se agrupar em duas categorias:

1. efeitos estocásticos: aqueles cuja probabilidade de ocorrência é proporcional à dose de radiação recebida, sem a existência de limiar. O desenvolvimento de câncer em indivíduos expostos, devido à mutação de células somáticas ou por uma doença hereditária em sua progênie, é exemplo;

2. efeitos determinísticos: efeitos causados por irradiação total ou localizada de um tecido, levando a um grau de morte celular não compensado pela reposição ou pelo reparo, com prejuízos detectáveis no funcionamento do tecido ou órgão. Existe um limiar de dose, abaixo do qual a perda de células é insuficiente para prejudicar o tecido ou órgão de um modo detectável.

A ICRP 10311 adverte que alguns efeitos associados à radiação, diferentes do câncer, ainda não são entendidos suficientemente para serem colocados em alguma das categorias mencionadas.

Os dois exemplos mais frequentes de reações tissulares (efeito determinísticos) de interesse em Cardiologia Intervencionista são a formação de catarata, em médicos, e lesões na pele, em pacientes.

O estudo dos efeitos determinísticos se baseiam na análise da distribuição espacial e temporal das doses sobre o tecido. Com uma dose única de 6 a 8 Gy, em um campo de 5 cm² , surge um eritema, que aumenta na primeira semana, mas desaparece progressivamente depois de 10 dias. Com o aumento da dose, a reação eritematosa chega a um máximo em 2 semanas e dura de 20 a 30 dias. No caso de doses ainda maiores, podem ocorrer a descamação seca ou úmida e, inclusive, a necrose.

A grandeza apropriada para planejar a exposição de pacientes e as avaliações do risco-beneficio é a dose equivalente ou a dose absorvida nos tecidos irradiados (cuja unidade é o Sievert − Sv e o Gray − Gy, respectivamente). A dose efetiva pode ser valiosa para comparar a dose de diferentes procedimentos diagnósticos, além de pôr em paralelo a utilização de tecnologias e de procedimentos similares em diferentes hospitais e países.

As revisões dos dados biológicos e clínicos realizadas pela ICRP 103 têm estimado que, para uma dose absorvida de até 100 mGy, nenhum tecido expressa dano funcional clinicamente relevante.11 Essa estimativa se aplica a doses agudas únicas ou a situações em que as dose são recebidas de forma prolongada, como as exposições anuais. No caso do câncer, os estudos mostraram evidências do risco da radiação para doses ao redor de 100 mSv ou possivelmente menores. No caso de doenças hereditárias, ainda não existe evidência direta de que a exposição à radiação dos pais leve a maior prevalência de doenças hereditárias nos filhos, embora o ICRP 103 tenha considerado que a radiação cause efeito hereditário em animais de experimentação. Essas observações experimentais foram suficientes para que os riscos para as futuras gerações fossem incluídos nos sistemas de proteção. De acordo com a ICRP 103, existe risco de reação de tecido e malformação do embrião e do feto irradiado no útero. No caso do embrião, pode haver efeitos letais no período de pré-implantação. A respeito das malformações, os padrões de radiossensibilidade in utero dependem da idade gestacional. O limiar para a indução de malformações é da ordem de 100 mGy e, abaixo desse valor, não se esperam malformações.

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O sistema prático de proteção radiológica recomendada pelo ICRP 103 está baseado na suposição de que, para doses > 100 mSv, um aumento na dose produza um incremento diretamente proporcional à probabilidade de desenvolver câncer ou efeitos hereditários decorrentes da radiação. Esse modelo de resposta à dose é conhecido como “linear sem limiar” (LNT, sigla do inglês linear-non-threshold). Esse critério foi compartilhado por UNSCEAR 2000,31 NCRP 2001-20091,32 e NAS/NRC 2006. A publicação 99 do ICRP 200534 considerou que a adoção do modelo LNT, combinado com um valor estimado do fator de eficácia da dose e taxa de dose, proporciona uma base prudente para os propósitos práticos da proteção radiológica, ou seja, a gestão dos riscos da exposição a doses baixas de radiação.

Observe a imagem abaixo:

Figura 2. Lesão na pele em homem de 40 anos submetido a múltiplas coronariografias. Aproximadamente 18 a 21 meses depois do procedimento, evidencia-se necrose dos tecidos.

Em geral, deve-se insistir na educação e na capacitação dos profissionais e da sociedade. É necessário que o ensino da proteção radiológica seja introduzido já no nível da graduação nas faculdades de Medicina. Os hospitais deveriam disponibilizar cursos sistemáticos para proteção radiológica. Investir em segurança é investir na saúde.

Um dos objetivos da proteção radiológica é evitar o uso desnecessário da radiação ionizante, justificando adequadamente cada procedimento (princípio da justificação). Esse princípio estabelece que a exposição à radiação deve produzir um benefício suficiente para compensar o dano que a radiação possa causar. Os procedimentos devem ser feitos com a mínima dose de radiação.

Deve-se aprimorar a formação dos profissionais envolvidos em cardiologia intervencionista na área de proteção radiológica; além disso, os equipamentos emissores de radiação ionizante devem estar submetidos a programas de garantia da qualidade que possibilitem reduzir a exposição às radiações ionizantes a níveis tão baixo quanto razoavelmente exequíveis (princípio ALARA, acrônimo do inglês As Low As Reasonably Achievable),minimizando os riscos para o paciente e a equipe médica.

O princípio da otimização preconiza um balanço entre risco e benefício. Potenciais riscos da radiação são admitidos, desde que haja uma adequada gestão da dose para todos os procedimentos de imagenologia.

Existem diversas publicações internacionais e algumas nacionais sobre as recomendações e metodologias para o gerenciamento da dose, a proteção do paciente e do staff, e tutoriais em física das radiações, as quais se fazem fundamentais para a prática da segurança e a administração da dose.Todos os IOE em procedimentos que utilizem fluoroscopia deveriam se familiarizar com esses documentos e com outras literaturas relevantes nessa área.

Em geral, a adoção de práticas que protegem o paciente também minimiza os riscos da equipe médica. O médico operador é responsável pelo procedimento intervencionista e deve ter consciência dos riscos das radiações ionizantes. Os quadros 1 e 2, publicados pela IAEA em 2010, apresentam recomendações sobre proteção radiológica no laboratório de proteção pessoal. Há um avental que é especialmente desenhado para a prática, podendo ser tubular e com cinto para a distribuição do peso, e um conjunto (jaqueta e saia), com uma proteção equivalente a 0,5 mmPb, que atenua aproximadamente 95% da radiação espalhada para 70 kV. Para a proteção do cristalino são necessários óculos com proteção equivalente a 0,25 mmPb e blindagem lateral. Adicionalmente, deve se incorporar o protetor de tireoide, com uma proteção de 0,35 mmPb.

As roupas de proteção pessoal precisam de um cuidado diário, que envolve a maneira adequada de armazenamento, limpeza e inspeção periódica em busca de danos nos trajes de proteção.  

Outro sistema de blindagem para a proteção do operador são os elementos externos de proteção, como o saiote e o biombo de teto, os quais também são fornecidos pelos fabricantes dos angiógrafos. 

O uso adequado dos elementos de proteção radiológica pode reduzir significativamente a exposição à radiação da equipe e de todos envolvidos durante o exame radiológico. Façamos da nossa profissional uma progressão da vida, aplicando os conhecimentos para o bem e minimizando ao máximo os malefícios provocados pela radiação ionizante.

Prof. TiTodescatto

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